Tudo começa com um convite especial para fotografar uma pousada na serra do mar, cercada por mata atlântica… Viagem marcada!
A fotografia de natureza é interessante, é o tipo de trabalho que você não faz só por dinheiro, você faz por amor, pois é um tipo de fotografia que leva o fotógrafo ao extremo da paciência, aos limites da persistência e da dedicação, e não basta ser fotógrafo, tem que ser um pouco louco e completamente apaixonado.
É lindo ver uma bela fotografia de paisagem ou mesmo de animas silvestres, principalmente aqueles que quase nunca vemos e são cercados por mitos, histórias e mistérios, mas a verdade é que quando você esta envolvido com a fotografia de natureza não basta ser profissional, ser paciente, tem que ser apaixonado para aguentar os desafios que a natureza impõe para conseguir ótimas fotos de espécies da fauna, da flora e de paisagens. Às vezes é preciso ir dezenas de vezes ao mesmo local ou região para conseguir uma única foto de uma espécie – e isso já aconteceu comigo muitas vezes – ou caminhar por horas para chegar em um ponto e ver uma paisagem, isso custa dinheiro, custa tempo, custa empenho, custa dedicação, custa até um pouco de teimosia no sentido mais nobre da palavra, mas eu garanto que é recompensador!
Véspera de Carnaval, nada de festa, marchinhas ou trio elétrico, o foco é outro, mais uma vez a Reserva Guainumbi em São Luiz do Paraitinga-SP foi o destino da viagem que fiz novamente com o meu amigo Marcelo Bueno para fotografar natureza, tínhamos planos de voltar lá após uma passagem em setembro de 2011 pela reserva, e digo mais, a cada ida para lá tenho a certeza que voltarei mais e mais vezes. A quem duvide que fomos pra reserva e não para o tradicional Carnaval de SLP, mas aí deixo por conta das fotografias.
A viagem até a reserva começa a ficar interessante na famosa rodovia Oswaldo Cruz que liga Taubaté a Ubatuba, um capítulo à parte, perigosa mas muito bonita e charmosa. A serrinha de Taubaté é exatamente a porta de entrada para a Reserva Guainumbi que fica ao lado do PESM – Núcleo Santa Virgínia, exatamente à 35km de São Luiz do Paraitinga ou de Ubatuba no litoral de São Paulo.
Na chegada a recepção como sempre é feita pelos beija-flores que fazem questão de chegar na frente do Josiel, o guia local e responsável pela pousada. Logo após a recepção encontrei com uma figura conhecida no meio dos birdwatchers, Geiser Trevilato de Jacutinga-MG que estava na pousada guiando um grupo de Campinas (Júnior, Paulo, Nathália e Bruna), enfim pude constatar que ele realmente existe, e ele o mesmo em relação a mim.
Após uma breve apresentação, troca de algumas informações, fomos todos pro jantar e o grupo do Geiser não perdeu tempo e já foi para primeira corujada, eu e o Marcelo optamos por “pererecar“, calma meninas, na verdade fomos fotografar os anfíbios que ficam ao redor das lagoas da pousada, estávamos cansados da viagem e no dia seguinte tínhamos uma trilha pra fazer logo cedo.
Na pererecada algumas fotos, mas não sei dizer as espécies, algum biólogo de plantão aí?
Primeira manhã na reserva e o Sol raiando forte às 6h 30, estávamos no café e nos preparávamos para sair pelas trilhas internas da Reserva Guainumbi, então surge ninguém mais nem menos que o Gustavo G. Pinto, uma figura, amigo de outras passagens pela Guainumbi e que é um dos colaboradores da reserva e estava lá a mais de 15 dias fazendo serviços voluntários, já com a sua câmera no pescoço e pronto para fotografar, isso tudo sem combinar nada anteriormente, obra do acaso mas EU (Tiago) não acredito em acaso, acredito em universo (…) que é uma outra história, pra uma outra hora.
Café tomado, hora de fazer as primeiras fotografias, ali mesmo, ao redor da pousada principal nos comedouros e bebedouros com a luz ainda fraca do amanhecer, mas que já serviu de incentivo para encarar a primeira trilha da reserva
Enfim trio reunido a caminho da trilha, então o Marcelo decide que vai dormir alegando estar cansado, tudo bem, então foi a dupla dinâmica: Tiago e Gustavo pra trilha, e logo na entrada um capitão-de-saíra apareceu pra pousar pra foto.
Passamos pela casinha da mata, subimos pela araponga e trilha dos tangarás descendo até quase a trilha do sapê, muitas choquinhas, capitão-de-saíra, patinho, arapaçus, mas nada do tangará, até que o Gustavo diz:
“- Já passamos do ponto dos tangarás, é lá no coqueiro…”
E lá vamos nós, ou melhor, voltamos nós até o coqueiro e foi batata: o tangará apareceu, e o sorriso no rosto também! Ver e ouvir o tangará é lindo, a sua cor azul com o chapéu laranja parecem pintados a mão e acho que foram mesmo…
O tangará foi logo no primeiro dia, na primeira trilha, juntamente com outras espécies avistadas enquanto estávamos sentados na trilha, observando e curtindo o “Carnaval das Aves” na mata. Voltamos pra pousada já pro almoço e uma foto garantida do Tangará, não foi a melhor foto mas foi um registro bacana e agora faltava a segunda espécie da lista, o tangarazinho, que ocorre dentro da Guainumbi mas não apareceu para a foto na trilha.
Antes do almoço e depois do almoço mais fotografias ao redor da pousada, na verdade nem é preciso andar muito para fotografar várias espécies, muitas ficam próximas, especialmente os beija-flores.
Foi uma tarde agradável no entorno da pousada, esperando o belo estrelinha-ametista aparecer, um beija-flor do tamanho do seu polegar, que fazia aparições relâmpago e era expulso pelos primos maiores. Final de tarde e era a vez das corujas. Preparamos o equipamento e logo após o jantar saímos pra corujar, logo no estacionamento o Geiser e o pessoal de Campinas estavam vendo e fotografando uma corujinha-do-mato, aproveitamos pra fazer umas fotos e partimos em busca do murucututu-de-barriga-amarela e da corjua-do-mato.
Chegamos no ponto da corujda-do-mato, logo no primeiro playback ela respondeu e apareceu, mas não vi onde ela pousou, pois lua nova (escuridão total) e com todas as luzes apagadas ficou complicado, tentei iluminar uma árvore onde eu imaginava que ela tinha pousado e ela alçou voo em direção a mata fechada… Ficamos por quase uma hora esperando ela voltar, fazendo alguns playbacks e esperando por longos minutos uma resposta até que ela se aproximou e sentou na nossa frente, e dessa vez eu à vi chegando, resultado muitas fotografias!
No final da corujada três espécies: corujinha-do-mato, coruja-do-mato (foto acima) e um casal de murucututu-de-barriga-amarela que demorou mais de uma hora pra aparecer e responder ao playback. Uma ótima noite, todos felizes e de volta a pousada era hora de começar a preparar o equipamento pra saída do dia seguinte, uma trilha no PESM – Núcleo Santa Virgínia, a trilha do Poço do Pito que segue margeando o rio Paraibúna.
Dia amanhecendo e EU (Tiago R.), Marcelo e o Gustavo juntamente com o guia Josiel saímos a caminho da trilha do Poço do Pito, após registrar a nossa entrada na mata na administração do parque, pegamos a trilha com pouco mais de 5KM pela mata atlântica, que em boa parte do trecho ainda é primaria, ou seja, intocada!
Logo na entrada da trilha já paramos pois tinham algumas espécies lifer (sem registros) pra mim e pro Gustavo, mas eu queria mesmo ver o tangarazinho, esse era o meu objetivo na trilha mas ele resolve não aparecer nesse dia. Outras espécies apareceram como tangará, assanhadinho, patinho, formigueiro-da-grota, piolhinho-serrano, suiriris e muitos outros. A trilha como sempre é linda, vários riachos cortando o caminho, vegetação densa
Continuamos a trilha até o final dela no rio Paraibúna, lugar lindo, que adoro ir e já conhecia. Paramos lá e ficamos na pedra por algum tempo, contemplando a beleza do lugar, a musicalidade da água escorrendo pelas pedras, é um lugar que todo mundo deve ir quando for ao PESM – Santa Virgínia ou a Reserva Guainumbi.
Já era hora de voltar, afinal tínhamos alguns quilômetros de mata atlântica pra cortar pela trilha. Pegamos os equipamentos e com as baterias recarregadas voltamos para aproveitar o almoço especial na pousada. Logo após o almoço, a espera era novamente pelo estrelinha-ametista, aquele bem pequeno, que fez novas passagens ao redor da pousada.
Enquanto isso, eu aproveitava para fotografar os sanhaços e a fêmea do coleirinho se divertindo na piscina, alias eu acho que nós é que deveríamos aproveitar uma piscina após a trilha do Pito.
Almoçamos, e lá fui de castigo pra um ponto onde o estrelinha-ametista costuma aparecer. Horas e horas no sol, esperando e quando ele aparece é sempre expulso por outro beija-flor maior, chega a dar pena do ametista que nunca desiste, e EU também não! Eis o ametista fêmea.
Ainda faltava a foto do beija-flor ametista-macho que tem a garganta extremamente colorida. Final de tarde, hora do jantar e novamente noite de corujar, pois ainda faltavam algumas espécies de corujas: suindara, coruja-orelhuda, listrada e possivelmente jacurutu ou corujão. Resolvemos ir atrás do jacurutu, que é a maior de todas as corujas do Brasil, e não o encontramos nos pontos de avistamento. Bom, o jeito era voltar pra pousada e preparar-se pra trilha interna do dia seguinte dentro da reserva.
Após o café decidimos descer pra trilha, somente Eu e o Gustavo, o Marcelo ficou descansando. Descemos pra trilha EU, Gustavo e o Paulo que estava no grupo de Campinas e um casal que passava o dia na pousada, Celso e esposa. Durante a trilha algumas aves, mas queríamos mesmo o tangará, o tangarazinho e quem sabe um surucuá. De todos o único que apareceu foi o surucuá-variado (abaixo).
Na verdade EU e o Paulo estávamos quase saindo da trilha quando ele, o surucuá, cruzou a nossa frente na trilha e pouso bem próximo, várias fotos para registrar as cores dessa ave, e tivemos ainda a sorte de fotografar ela caçando lagartas nas folhagens. Um momento único, de muita euforia e realização por ver uma ave tão linda. Voltamos pra pousada feliz para curtir o almoço que nos esperava, logo após o almoço resolvi que faria novamente um plantão no entorno das grevilhas para tentar fotografar o estrelinha-ametista macho, então lá fui eu mais uma vez para o castigo sobre o sol quente das 14h.
Rodei em volta da pousada em algumas árvores e plantas a procura do estrelinha-ametista, mas nem sinal do pequeno beija-flor, já outras espécies se exibiam para fotografia, entre eles o belo beija-flor-de-orelha-violeta (abaixo).
Outras espécies apareceram, como o saíra-amarela, fronte-violeta, suiriri-pequeno e a fêmea do estrelinha-ametista, mas nada do macho com sua garganta rosa.
Continuei firme e forte na espera do ametista macho e após umas 2h e 30 ele resolveu aparecer pra fotografia! Ufa, enfim uma foto do estrelinha-ametista macho (abaixo).
Enfim a foto do estrelinha-ametista macho, entre tantas outras, a foto acima dele limpando o bico me chamou a atenção e por isso postei ela. Linda ave, desejo realizado! Já era final de tarde e fui pra pousada, mas nada de jantar, era dia de churrasco especial.
Após o churrasco oferecido pelo JM e Adriana, fomos pra mais uma corujada em busca de algumas espécies, mas o mar não estava pra peixe, ou melhor, a noite não estava pra corujas e após algumas horas voltamos. Fotografia de natureza é assim, as vezes tudo parece estar certo mas o bicho não aparece.
Quando nos demos conta já era a manhã do último dia na Reserva Guainumbi, tínhamos programado para sair logo após o almoço, então aproveitei pra fotografar mais uma vez no entorno da pousada e várias espécies apareceram: gaturamo-rei (imaturo), saíra-lagarta, joão-bobo e um casal de tuim.
Tudo que é bom dura pouco, chegava a hora da despedida e para fechar com chave de ouro um lindo beija-flor-preto nos jardins do entorno da pousada principal.
Malas prontas e o gostinho de quero mais! Não podíamos adiar mais a subida da serra para evitar o trânsito da subida do litoral, logo após o almoço pegamos a estrada de volta pra casa com a certeza de voltar em breve para a Reserva Guainumbi.
Localizada em São Luiz do Paraitinga-SP a Reserva Guainumbi é uma pousada voltada para os amantes da natureza, birdwatching’s e ecologistas, cercada por mata atlântica a e ao lado do PESM – Núcleo Santa Virgínia. A reserva oferece atividade de observação de aves e da fauna da mata atlântica, workshops, trilhas internas e externas no entorno da reserva com comodidade e hospitalidade para os interessados em meio ambiente.
Confira todas as fotografias:
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Abraços e até a próxima.
Bom dia, excelentes fotos, fiquei maravilhado, parabéns. a dois anos venho buscando informações e fiz um curso de fotografia para iniciantes, estou maravilhado, troquei de maquina e pretendo buscar lentes que possa me proporcionar fotos com mais qualidades, o que vale é a paciência para aproveitar o glamour que a natureza oferece para congelar a imagem perfeita.
Olá Clodoaldo. Obrigado pelo contato, realmente fotografia de natureza é sensacional.
Esperamos que possa aproveitar o portal EF com as nossas dicas e fotografias.
Estamos a disposição e convidamos você a conhecer o site http://www.VidaDeFotografo.com.br
Abraços, equipe EF.
Parabens ! belas fotos e excelente passeio!
Esse é um caminho que eu quero seguir, tirar fotos da natureza, de paisagens, animais, acho que isto é meu Hobby, adoro a natureza, queria algumas dicas de como começar, câmeras que eu possa usar, etc. Me adiciona no e-mail para conversarmos.
Lindas fotos,
Abraço,
Caio Cézar
Parabéns fotos magnÃficas com detalhes perfeitos.
Abs.
Aline.
Prezado TIAGO
Adorei o relato e as fotos maravilhosas.
Parabéns!
Forte abraço
RONALD
Não preciso falar que vc é um grande fotógrafo e nem preciso falar que as fotos estão lindas, né?
Mais uma vez, parabéns!
Ótimo texto e lindas fotos
O sapo se chama sapo de chifre (Proceratoprhys boiei)
Muito legal Tiago.
Preciso conhecer este canto.
Tangará, surucuá e estrelinha ametista …. lindÃssimos pássaros e belÃssimas fotos.
Valeu.
Ptellis
Grande PT.
Realmente é um cantinho que você precisa conhecer, além da natureza do lugar tem Paraitinga, cidade paulista que faz parte da Estrada Real e também Catuçada, uma pequena vila que parece estar perdida no tempo.
Em junho tenho WS de fotografia lá! Ótima data!
Na páscoa é uma opção também.
Abraços
Tiago R.
Muito bonito seu relato deste lindo local no meio da Mata Atlântica, alem da paisagem do ambiente maravilhoso para curtir os pássaros e a paisagem a Reserva Gauinumbi, tem um pessoal acolhedor e hospitaleiro, além do Josiel que é um excelente guia, sem falar da ótima comida caseira.
Obrigada por alegrar meu dia compartilhando essas fotos encantadoras e inspiradoras e parabéns também pelo texto!
A propósito… Guainumbi na Páscoa? Intrusaaa… hehe!
Abraço
Parabéns Tiago,
Muito bom o relato e as fotos então…
Mas da proxima vez, não me faça vontade na vespera de partir, quem sabe vamos juntos!
Boa tarde caro amigo Sinvonei.
Estou querendo ir pra Guainumbi no feriado da páscoa.
Abraços
Tiago R. / EF
Estou apaixonada por este lugar…. suas fotos é um talento nato sem comentarios …. e obrigada por compartilhar estas fotos , e a dica do lugar, é perto de casa, e é otimo para uma escapada no final de semana …. realmente perfeito ….
O seu amor e o respeito com que você trata a natureza é incrivel e ela te retribui este respeito com estas belas imagens
Caro amigo, sem dúvida alguma o seu poder de expressão vem transparecendo as lentes a cada dia. Admirável técnica, paixão e sensibilidade fotográfica. Só tenho a parabenizá-lo, principalmente pelas fotos do “beija-flor”, tão incomum de se ver no contexto urbano de hoje. Obrigada por mais uma vez sensibilizar não só os olhos, mas o coração. Um grande abraço!
Querido Tiago
o texto, as fotos são uma viagem…
Dá vontade de correr para a Reserva.
Sua paixão pelo seu trabalho, pela natureza é inspiradora!
Como o mundo assim de pertinho é diferente.
bjo
Ti, li este post ontem, mas nem comentei….
Mto legal essa sua viagem, como te disse antes, so conheco o lado de festas de SLP, vale a pena ir pro meio do mato, rende otimas fotos pra quem gosta de passarinhar!
Suas fotos estao lindas, como sempre, vc sabe fotografar muito bem a natureza!
Bjo